quarta-feira, janeiro 18, 2006

Nevoeiro ...

O nevoeiro é apaziguador de várias formas, o seu manto é silencioso, ofusca as vergonhas da humanidade, protege os sonhos mais queridos, abafa os sons mais repelentes. De facto tem o seu quê de misterioso.

Será um manto de Deus ? Será, cruamente e friamente, uma conjugação meteorológica de factores ?

O certo é que de facto é fascinante na sua forma de aparecer e desaparecer de forma silenciosa e subtil e sub-reptícia.

Quando aparece dá-nos uma sensação de conforto, de ninho, de distanciamento dos problemas, de diluir das mágoas, das indefinições, dos dissabores, das incertezas, de abafar dos gritos. Dá-nos vontade de esquecer “o lá fora”, de aconchegar o edredão à nossa cara, de nos virar-mos para dentro, de entrar na nossa alma, de escutar os nossos segredos mais recônditos, de dar largas á imaginação, de dar voz às frases soluçadas, aos desejos sussurados, aos abraços desfeitos, à imaginação descolorada ...

E quando ele se retira, por vezes tão rápido como o secar de uma lágrima, vislumbramos ruídos e formas que estavam somente adormecidas por ele :

Do então canto longínquo de um pássaro, vislumbra-se a sua forma, o seu porte, o brilho ainda húmido das suas asas. Do cheiro a pão fresco e a café, surge a casa ainda meio estremunhada, com as suas janelas protegidas por cortinas pacientemente feitas á mão em dias frios de inverno, Deus sabe tecidas com que sentimentos. Surge o gato por detrás dessas cortinas esperando felinamente que o sol lhe venha acalentar o pêlo. Dos vasos pendurados na nossa janela surgem, de novo, as belas flores, que nos parecem ainda mais coloridas, com as sua pétalas orvalhadas !

Infelizmente também surgem as antenas nos tectos, a sujidade das ruas, o barulho dos carros, a correria desenfreada das pessoas que não sabem para onde vão, a poluição do ar, a podridão !!!

Sy - n.e.
10-10-03

3 Comments:

Blogger Mixikó said...

Sy,
deixo-lhe aqui duas simples coisas: os parabéns pela escrita e a minha preferência:

"de entrar na nossa alma, de escutar os nossos segredos mais recônditos, de dar largas á imaginação, de dar voz às frases soluçadas, aos desejos sussurados, aos abraços desfeitos, à imaginação descolorada ..."

"quando ele se retira, por vezes tão rápido como o secar de uma lágrima, vislumbramos"

"tecidas com que sentimentos"

"a correria desenfreada das pessoas que não sabem para onde vão"

" a podridão !!!"

2:53 da tarde  
Blogger Sy said...

Mixikó !
Muito obrigada pelas tuas palavras ! é bom sentir o aconchego dos amigos !

2:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É interessante o facto de sermos todos iguais e nos identificarmos apenas pelas palavras...

1:29 da tarde  

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