Tempo : Ampulheta da nossa vida
É aquele que não pára quando queremos
Que corre quando não temos tempo
Que leva uma palavra na asa
Um sentimento no corpo
Que parece parar quando uma criança nasce
Que anda mais depressa quando a infância voou
É também o tempo atmosférico
Que faz vergar ar árvores sob o vento
Que lhes arranca as folhas, as desnuda
Que tinge as nuvens de raios, de cor ou negras de medo
Mas também que inunda a terra e a torna fecunda
Que cobre os campos com as cores do arco-íris
Que pincela de verde manso os bosques
Que dá vida aos ramos adormecidos das árvores
Que acorda as flores, as penteia, e as veste
E é o tempo físico que, ainda, não aprendemos a controlar
Que teima em nos modificar as feições
Em nos fazer andar mais devagar, quando o tempo escasseia
Que nos faz curvar perante ele, quase fazendo vénia ao passado
Vénia que deveríamos ter feito enquanto havia tempo
Porque, um dia, já não há tempo para ter tempo
Ele engoliu-nos.
E, nesse curto espaço de tempo, damo-nos conta
Que não tivemos tempo para tanta coisa, que afinal não precisava assim de tanto tempo :
Aquela palavra que tanto tínhamos querido dizer
Aquela confissão tanto tempo calada
Aquele beijo de bom dia que só leva um segundo
Aquela palavra meiga e de ânimo que pode devolver o tempo
Aquele abraço que faz reter o tempo
Aquele sorriso que apaga o tempo da dor
Tempo : nuvem intemporal da nossa vida
Mais veloz que a nossa ânsia de a agarrar
20.03.06 - Sy. - n.e.