O nevoeiro é apaziguador de várias formas, o seu manto é silencioso, ofusca as vergonhas da humanidade, protege os sonhos mais queridos, abafa os sons mais repelentes. De facto tem o seu quê de misterioso.
Será um manto de Deus ? Será, cruamente e friamente, uma conjugação meteorológica de factores ?
O certo é que de facto é fascinante na sua forma de aparecer e desaparecer de forma silenciosa e subtil e sub-reptícia.
Quando aparece dá-nos uma sensação de conforto, de ninho, de distanciamento dos problemas, de diluir das mágoas, das indefinições, dos dissabores, das incertezas, de abafar dos gritos. Dá-nos vontade de esquecer “o lá fora”, de aconchegar o edredão à nossa cara, de nos virar-mos para dentro, de entrar na nossa alma, de escutar os nossos segredos mais recônditos, de dar largas á imaginação, de dar voz às frases soluçadas, aos desejos sussurados, aos abraços desfeitos, à imaginação descolorada ...
E quando ele se retira, por vezes tão rápido como o secar de uma lágrima, vislumbramos ruídos e formas que estavam somente adormecidas por ele :
Do então canto longínquo de um pássaro, vislumbra-se a sua forma, o seu porte, o brilho ainda húmido das suas asas. Do cheiro a pão fresco e a café, surge a casa ainda meio estremunhada, com as suas janelas protegidas por cortinas pacientemente feitas á mão em dias frios de inverno, Deus sabe tecidas com que sentimentos. Surge o gato por detrás dessas cortinas esperando felinamente que o sol lhe venha acalentar o pêlo. Dos vasos pendurados na nossa janela surgem, de novo, as belas flores, que nos parecem ainda mais coloridas, com as sua pétalas orvalhadas !
Infelizmente também surgem as antenas nos tectos, a sujidade das ruas, o barulho dos carros, a correria desenfreada das pessoas que não sabem para onde vão, a poluição do ar, a podridão !!!
Sy - n.e. 10-10-03