segunda-feira, abril 24, 2006

Um belo dia ....

Um belo dia alguém se lembrou de me semear. Num jardim nas Amoreiras. Num pedaço de terra tranquilo junto a uma muito movimentada estrada, cheia de carros com gente a correr para lado nenhum.

À medida que as minhas folhas iam emergindo, dei-me conta que fazia parte de um grande jardim, com muitas flores e plantas e relva. Sonhava que depois de crescida iria ser bonito olharem para nós, tranquilizante a nossa presença, cheiroso o nosso perfume para as pessoas dentro dos carros apressados e para as pessoas que ainda andavam a pé.

Lá formámos o nosso jardim. Bem bonito. Demos abrigo a insectos que ajudavam à nossa reprodução. Demos origem a um lugar lindo à beira do inóspito asfalto, sujo, barulhento, tanto gélido como infernalmente quente.

Demos lugar a momentos breves de descanso para os olhos daquela gente atarantada de tanta confusão. Demos alguns momentos de tranquilidade àqueles emaranhados confusos de mentes sem tempo para viver na correria para a sobrevivência.

Dei alguma esperança às pessoas que passavam nas manhãs frias em que eu lhes acenava com as cores das minhas flores. Alguma coisa iluminava-lhes o olhar. Havia o esboço de um sorriso, havia o diálogo com os mais “loucos”.

Diálogo breve, mas diário :

- Está frio hoje não achas ?
- Olha, tens mais uma folha !
- Hoje, estava mesmo a precisar de te ver, estou tão triste ....

Enfim, coisas que só nós plantas e flores conseguimos ouvir destas pessoas que a vida teima em vão, em desumanizar.


Quando tudo parecia em perfeita harmonia, eis senão quando surgem umas enormes máquinas, que fizerem uns buracos do tamanho do mundo, Faziam estremecer as nossas entranhas, Fechei os olhos de tanto medo. As minhas folhas perderem o brilho, conspurcaram-se de pó, de frio, de lama. A minha flor caiu de vergonha de ver as nossas companheiras tombadas, espezinhadas, enxovalhadas naquela maré de destruição. Encolhi-me o mais que pude, o suficiente para eles acharem que tinham acabado comigo. Ali fiquei agachada, enfiada dentro de mim própria sem saber o que fazer. Ainda conseguia ouvir as tais vozes, tristes comigo por tal selva

5 Comments:

Blogger José Pires F. said...

Creio que conheço esse jardim e até que lá vivi, infelizmente com outra idade que não permitiu ver com olhos de criança todas essas coisas.
Há coisas que os olhos adultos não vêem. È pena…
Gostei imenso deste post.
Um abraço.

4:20 da tarde  
Blogger Sy said...

É muita pena mesmo ! Há muita coisa que se perde quando o olhar se torna "adulto" e duro ...
Adorei tê-lo por cá !
Obrigada !

8:43 da manhã  
Blogger Mixikó said...

Querida Sy,
Adorei este Post...
Espero que o seu "olhar" seja sempre criança...
Beijinhos

11:25 da manhã  
Blogger Sy said...

Obrigada Mixiko (Lolobrigida !)
Graças a Deus continua sempre a ser criança ! É a melhor maneira de ver o Mundo, sem ter muito desespero !
Obrigada por teres passado por cá !

11:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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11:08 da tarde  

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